O livro e a sustentabilidade dos Bate-Bolas

realizada em:  
04/2018
Local:  
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

TESE DE DOUTORADO de Miguel Carvalho: "O livro como alternativa de sustentabilidade comunicacional: etnomaterialização". A pesquisa trata da inserção do ilustrador no mercado editorial de maneira alternativa ao sistema hegemônico de produção. Tem como objeto de estudo a ilustração ficcional literária e visa instrumentalizar a produção local de livros de maneira sustentável, como resistência à indústria massificada, dando, assim, autonomia a autores fora do eixo hegemônico. É uma aplicação prática do conceito de “sustentabilidade comunicacional”, que busca aferir a sustentabilidade na produção de conteúdo, tendo a cultura popular como recorte e a manifestação Bate-Bola como estudo de caso.

Os avanços tecnológicos da produção gráfica e as facilidades de reprodução em baixa tiragem, com qualidade e custos cada vez menores, tornaram o mercado editorial independente uma realidade mais possível. Ao longo dos últimos anos, foi possível perceber o crescente número de feiras independentes compostas por editoras e artistas gráficos. Portanto, a produção independente e sua comercialização se tornaram mais viáveis.

Os anseios e a trajetória pessoais acompanham e estão em constante troca com os anseios do Dhis. Nos últimos anos, foi crescente a preocupação por formas alternativas de criação e comercialização de produtos narrativos, seja no âmbito da pesquisa de personagens e mascotes – em parceria com o Planetário da Cidade do Rio de Janeiro, por exemplo – ou no desenvolvimento de experimentações no campo dos Toy Arts ou, ainda, pensando nos livros de atividades recentemente investigados. O intuito era dar saídas alternativas aos produtos científicos e narrativos gerados na academia. Foi nesse caminho que desenvolvemos o selo editorial do Dhis.

Este projeto, bem como diversos outros dentro do Dhis, está ancorado principalmente nos estudos de Pier Paolo Pasolini. Conceitos como o da “semiologia da realidade” e da “pedagogia material” são desenvolvidos em diversos textos de sua obra teórica Empirismo Herege (1982) e Jovens Infelizes (1990), principalmente) ou em sua produção ficcional (filmes, dramaturgias, romances, poemas e desenhos). Esses conceitos são fundamentais, porque estabelecem a base para uma discussão da importância da semiologia e da imagem no contexto em que vemos o sistema hegemônico de produção e circulação focado no lucro e, portanto, deixando à margem uma diversidade de importantes conteúdos.

Essa intenção de preservação nasce a partir do conceito de “sustentabilidade comunicacional”, que visa atualizar as preocupações de Pasolini na conjuntura do modelo econômico mundial. O conceito, cunhado no Dhis, visa estudar os atuais modelos de comunicação em massa e de produção de conteúdo, para verificar se o conceito de “sustentabilidade” proposto pela Organização das Nações Unidas se aplica a esse contexto. Fundamentado em autores como Benjamin, Pasolini e Didi-Hubermam, o conceito de “sustentabilidade comunicacional” reflete a possibilidade de uma sustentabilidade na produção de conteúdo.

Portanto, o questionamento e a reflexão a respeito da autonomia do ilustrador, tanto no âmbito da criação quanto no âmbito do mercado, passam por um entendimento do modelo de desenvolvimento global atual. Nesse caso o entendimento do modelo precisa estar fundamentado na noção de sustentabilidade, ou seja, rever, criticar, avaliar o modelo fundamentando-se na noção de sustentabilidade comunicacional. O trabalho que se desenvolve parte do tema sustentabilidade comunicacional: análise e produções alternativas aos sistemas hegemônicos de comunicação e tem como objeto de pesquisa a narrativa visual ficcional no objeto livro.

O objetivo geral desta pesquisa é fomentar a produção de livros com temática local, de maneira sustentável, como resistência à indústria massificada e com o intuito de dar visibilidade a temáticas fora do eixo hegemônico. Será preciso conquistá-lo de maneira gradual, através dos seguintes objetivos específicos: compreender a sustentabilidade comunicacional no âmbito da produção ficcional da literatura ilustrada; analisar os processos de criação de narrativas visuais dentro dos paradigmas da sustentabilidade em uma contextualização cultural; levantar e analisar sistemas alternativos de produção de livros em uma contextualização socioeconômica; experimentar formas de produção alternativas em diferentes contextos culturais; descrever soluções alternativas baseadas nos experimentos de campo, para verificar a aplicação prática daquele conceito.

A organização deste material foi feita de forma a compreender que essa problemática não se encerra dentro do mercado editorial, mas está presente no mercado de maneira geral. Ela tem suas raízes no movimento de globalização que trouxe, dentre outras questões, a concentração do desenvolvimento intelectual, tecnológico e científico nos países ricos e da produção nos países pobres – em uma espécie de neocolonização bastante discutida já em décadas anteriores. Esse contexto traz também discussões sobre autoria e direitos autorais, bem como os problemas que envolvem a produção massificada e o consequente sufocamento das produções menores. Por fim, pretende-se pensar o papel do ilustrador nesse contexto e os novos desafios para a profissão.

Por fim, este é um estudo que parte de uma pesquisa prévia com relação à autonomia do ilustrador diante de questões colocadas dentro do mercado editorial. A pesquisa de mestrado tinha como foco a autonomia em relação à criação. Agora, o projeto avança para as possibilidade de autonomia em relação ao mercado editorial em si e vai buscar, nas publicações independentes, formas de desenvolver
parâmetros para essa autonomia. Conscientes desses parâmetros, a ideia é desenvolver estratégias frente à hegemonia da produção massificada e seus vícios estruturados na globalização, dando espaço e autonomia a temáticas fora dos eixos majoritários de produção.

O livro, resultado de um dos experimentos dessa pesquisa pode ser acessado nesse link.

Contextualização no Carnaval
Parte da produção artesanal
Medo do personagem e apresentação de materiais: boá
Clímax do livro, quando personagem encontra todos os bate-bolas em casa
Pai se apresenta como bate-bola, desconstruindo o estigma de violência.
Estudo de cenários
Estudo de cenas
Estudo de cena
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Estudo de linguagem
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